domingo, novembro 21, 2010

100 anos de Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz - divulgação

O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro programou para o centenário de Rachel de Queiroz (1910- 2003), uma série de atividades em homenagem ao aniversário da escritora, com exposição, filmes e lançamento de livro inédito, até 16 de janeiro.

 

Lançamento do livro Mandacaru

100 anos de Rachel de Queiroz

Mandacaru é uma coletânea de poemas manuscritos que permanecia inédita até ser descoberta no Fundo Rachel de Queiroz do Instituto Moreira Salles. O livro revela a inquietação da escritora muito jovem – ainda com 17 anos – na busca por seu estilo natural, que encontraria em 1930, quando publicou o romance O quinze. Em Mandacaru, Rachel de Queiroz tratou de temas e de personagens que desenvolveria não só nos romances posteriores, como também nas crônicas e no teatro.

Todos os 10 poemas de Mandacaru são acompanhados de fac-símiles dos manuscritos, entre os quais “O êxodo”, “Meu padrinho” e “Lampião”. Datados de 1928, os poemas revelam o entusiasmo com que a autora procurou se integrar ao movimento modernista.  Elvira Bezerra é autora do texto de abertura do livro, no qual analisa os primeiros passos de Rachel de Queiroz como jornalista na imprensa do Ceará, desde a sua estréia, em 1927, até 1930, quando publica O quinze.

Telha de vidro
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

Romancista, mas também poeta , nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna — "dona Miliquinha" — era prima de José de Alencar, autor  de "O Guarani"), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito nessa época.

Em 1977, por 23 votos a 15, e um em branco, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro.

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